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terça-feira, 7 de julho de 2015

O Pedro II e a greve

       Na quarta-feira última, 1º de julho, houve assembleia. Como ainda vejo muitos alunos perguntando a respeito dos resultados dela, com vários deles sem entender o que foi decidido, resolvi dar uma ajuda aqui. Para começar a entender melhor: há uma diferença grande entre aprovar o estado de greve e aprovar o indicativo de greve. 
       Vamos lá. O chamado "estado de greve" é um recurso retórico, uma forma de dizer que os trabalhadores não estão muito satisfeitos e que uma greve não está descartada no futuro. Não tem valor jurídico, é um "ambiente de natureza política criado pelas entidades sindicais com o objetivo de arregimentar os trabalhadores para a futura deflagração da greve" (fonte: veja aqui). E tal greve poderá acontecer ou não, obviamente. Já o "indicativo de greve", se aprovado, diz que uma categoria vai efetivamente entrar em greve, na data tal ou em data a ser marcada.
       O que aconteceu na assembleia? Embora algumas pessoas deem a entender outra coisa, a votação mais importante do dia foi aquela em que o indicativo de greve foi derrotado por maioria esmagadora, sem haver qualquer necessidade de contagem de votos, foi "no olho" mesmo. A próxima assembleia será dia 12 de agosto e não haverá nova votação sobre indicativo nesse dia. Já o estado de greve foi aprovado, mas com votação bastante apertada (76 a 72, ou coisa bem próxima disso). Minha visão sobre isso tudo: não haverá greve tão cedo. A menos que alguma catástrofe aconteça nas próximas cinco semanas, a greve não deve ser aprovada no final de agosto, caso volte à pauta. A diferença expressiva na votação contra o indicativo foi um recado inequívoco: a comunidade do CP II não quer parar agora e será necessário mudar a cabeça de muita gente para que ela aconteça ainda esse ano.
       Um parêntese curioso (na verdade, triste): vi reações raivosas acometerem algumas pessoas após o indicativo ser rejeitado por imensa maioria. Teve gente que gritou "Essa escola já foi muito diferente! LAMENTÁVEL!". Isso, para mim, denota uma extrema falta de respeito com a decisão da maioria. Falta de respeito com a capacidade, daquela gente toda, de pensar nos nossos problemas, como se o referido reclamão fosse o grande dono da verdade, e os demais, muito mais numerosos que o grupo dele, apenas uns burros que não sabem o que fazem. Isso sim é lamentável, isso é mostrar que só se acha a democracia boa quando seu lado vence.
       Que fique claro que não sou contra greves, em geral. Mas não sou a favor DESSA greve, NESSE momento. Já vivi três delas desde que entrei no CP II; já concordei com elas e já discordei delas. A deflagração da quarta greve em cinco anos deixaria clara a banalização desse instrumento, que é poderoso e deve ser tratado com cuidado, exatamente por ser o mais forte que o trabalhador tem. Não compreendo bem as pessoas que são a favor de todas as greves, tampouco acho razões para ser contra todas elas. No primeiro caso, parece muito mais uma opção político-partidária de confrontamento sistemático com o governo, uma tentativa de desestabilizar a administração por todo lado, custe o que custar. Pode olhar alguns argumentos das pessoas-sempre-a-favor: o governo atacou a saúde, atacou as pensões por morte, atacou a educação. Opa, educação é com a gente, mas querer resolver tudo com greve de professor? Parece mais uma tentativa de usar nossa greve na construção de algo muito maior, uma greve geral, talvez. Na outra ponta, vejo que ser contra todas as greves também incorre em erro substancial. Ora, cada caso é um caso, e eles devem ser analisados de forma individual. Por exemplo, depois que entrei no CP II, fiquei mais de três anos sem qualquer aumento. Vejo como motivo suficiente, ainda mais se somado a outros problemas. 
       As duas posições extremistas acabam gerando algumas coisas em comum: raiva do oponente e fragilidade de alguns argumentos. Se nada do outro lado serve, você não vê como pode perder um debate ou votação, o que gera ódio do adversário. Além disso, como há a necessidade de rebater qualquer tentativa de convencimento em contrário, acabam surgindo falas como "o governo está fazendo X ou Y", que podem até ser realmente coisas ruins mas nada ter a ver com a educação. Ou então, no outro extremo, "sou pago para trabalhar", que é óbvio, mas é vazio e insensível, por se recusar a analisar as condições de trabalho e pagamento.
       Para finalizar, o momento atual não me parece politicamente favorável. Ano passado fez-se uma greve durante a Copa do Mundo e fomos absolutamente ignorados. Tanto pela falta de interesse do governo em priorizar outro assunto diferente da Copa quanto pela própria falta de mobilização dos trabalhadores. O resultado da greve foi zero, apesar de algumas pessoas terem discursado polianicamente que valeu a pena porque nos juntamos na luta e tal. O movimento de hoje já começaria traumatizado pelo fracasso do ano passado; nós fizemos greve como jogou o David Luiz no 7 a 1: atabalhoada e irresponsavelmente. E mesmo os cortes no orçamento feitos pelo governo AINDA não me parecem motivo. Foram cortes para todo lado, não só na educação. Cabem alguns pensamentos sobre isso. Primeiro, os cortes são uma realidade, eles vão acontecer porque o governo acredita que gastou demais e que é necessário um ajuste fiscal. Ponto. E aqui, devemos tomar cuidado com o famoso pensamento "farinha pouca, meu pirão primeiro". Tira deles mas não mexe no meu, sabe? Segundo, quando há mudanças de natureza orçamentária, as verbas têm uma tendência a fugirem da normalidade por um tempo e trilhar caminhos tortuosos até que um novo seja encontrado. Nós já sentimos a falta de dinheiro na escola com o problema da merenda, por exemplo, mas a verdade é que as coisas começaram a se ajustar e ainda não sabemos qual será a real situação daqui a pouco. Penso que devemos dar tempo ao tempo. A greve, para mim, por enquanto, está fora de questão.

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